A Popularização dos Home Studios
Tascam TSR-8
Um velho sonho de todos os músicos já é rotina para uma boa parcela deles. Ter em casa um estúdio de gravação, onde se possam gravar os próprios trabalhos, seja como fonte de renda, ou pelo menos para registrar as idéias quando elas ainda estão frescas, recém-saídas da inspiração. O antigo sonho de compositores, cantores e instrumentistas se converteu em um mercado que movimenta milhões de dólares por todos os continentes.
Muitos músicos, pelo mundo afora, têm seu próprio estúdio, geralmente instalado em um quarto ou sala, em casa. Alguns são bastante sofisticados, com gravação de áudio digital em 24 pistas ou mais, mesas de som automáticas e muito poderosas, vários samplers, sintetizadores, supercomputadores, tratamento acústico, enfim, recursos compatíveis com os estúdios comerciais de médio ou até grande porte. Outros (a maioria) são bem mais simples, sem tratamento acústico, com menos equipamentos, mas com alto poder de fogo, de qualquer forma.
Fostex X-15
No Brasil dos últimos anos, com a liberalização alfandegária para a importação de equipamentos eletrônicos, o mercado cresceu rapidamente. As lojas de instrumentos se modernizaram e aumentaram em quantidade e qualidade. A figura do “muambeiro” de instrumentos musicais, outrora o braço direito de todo músico profissional, vem, passo a passo, dando lugar a uma estabilização do setor. O músico brasileiro se torna consumidor, com direito a garantia e assistência técnica para seus instrumentos de trabalho, em vez do antigo e triste papel de receptador de material contrabandeado. Por sua vez, a indústria nacional começa a despertar para as novas tecnologias e custos, frente à feroz concorrência dos produtos importados. A gigantesca multiplicação do número de estúdios caseiros decorreu de alguns inventos, que surgiram com a tecnologia digital, no início dos anos 80. Esses inventos evoluíram de modelos que vinham sendo desenvolvidos nas duas décadas anteriores. O mais conhecido é o protocolo MIDI, a interface que comunica sintetizadores a computadores. A MIDI (ou ‘o’ MIDI, como dizem) foi definida em 1983 pelos principais fabricantes de instrumentos musicais do mundo. Ela evoluiu de sistemas de triggers e outros sincronizadores, que cada fábrica desenvolvia para seus instrumentos e sequenciadores analógicos, sem muita compatibilidade entre equipamentos de fábricas diferentes. Em 83, a indústria resolveu criar um protocolo unificado, e aberto a inovações futuras. Surgia a Musical Instrument Digital Interface, ou MIDI.
Tascam PortaStudio
Mais adiante, com o grande número de usuários e produtores de MIDI files, os arquivos no padrão MIDI para computadores já não eram mais de interesse exclusivo dos músicos. Os jogos de computador, por exemplo, lançam mão desses recursos, e se dirigem a um público muito maior. Foi definido então o padrão General MIDI, um conjunto definido e limitado de timbres e outros recursos para compatibilizar diferentes equipamentos em aplicações voltadas para o mercado da informática. As placas de som e a multimídia tiveram aí um terreno fértil para se desenvolverem. Outro grande responsável pela explosão dos home studios foi o chamado porta-estúdio, o gravador cassete de quatro (ou mais) pistas, que foi aposentando os gravadores de rolo de quatro, oito ou 16 pistas. Hoje, o porta-estúdio está sendo aos poucos substituído pela gravação digital em hard disk ou em fita de vídeo. O custo relativamente baixo e a facilidade de manuseio desta tecnologia foram os responsáveis pelo súbito aumento do número de produtores independentes. De lá pra cá, máquinas, ferramentas e software para se gravar música em casa são lançados freneticamente em um mercado que não pára de se expandir. Nos anos 90, os seqüenciadores por computador e a gravação de áudio pelo processo digital em oito ou 16 pistas são as tecnologias que mais se popularizam. A Internet, a rede mundial de computadores, é uma grande parceira desses estúdios, na medida em que fornece programas, upgrades (atualizações), gravações de músicas, arquivos MIDI, partituras e informação musical de graça, sem que o músico precise sequer sair de casa.
Alesis ADAT
O outro lado da moeda é a expansão do próprio mercado de trabalho do músico. Por todo canto, florescem novas produtoras de multimídia, de vídeo e animação, agências de publicidade, rádios comunitárias e outras empresas que são clientes naturais das pequenas e médias produtoras de som, caso de muitos home studios com objetivos comerciais. Aqui, o estúdio caseiro fornece meio de trabalho para um ou mais músicos, cantores, compositores e arranjadores. Por seu baixo custo operacional, o home studio chega a competir com as grandes produtoras, oferecendo produtos de alta qualidade aos clientes mais exigentes. Mesmo as emissoras de TV têm preferido contratar produtores que disponham de estúdio próprio. Para se montar e operar um home studio são necessários alguns requisitos básicos. O primeiro que vem à mente, naturalmente, é o capital necessário; o segundo é o equipamento a comprar. No entanto, um requisito fundamental muitas vezes é esquecido nessa hora: planejamento. Sem ele, possivelmente o capital será mal empregado ou o projeto não sairá do mundo das idéias. Planejar os objetivos, o mercado potencial, as condições de trabalho, o equipamento e os recursos humanos, tudo de acordo com o capital disponível, deve vir antes da aquisição de qualquer máquina, para que o sonho não se torne um pesadelo. A consulta permanente ás fontes de informação (revistas, manuais, lojas, especialistas, amigos com experiência, sites na Internet) é outro requisito importante.